martes, 20 de diciembre de 2011

Lição brasileira ao futebol brasileiro

Com grande prazer vejo as análises brasileiras do baile que recebeu o Santos do Barcelona na final da copa Intercontinental. Essa mesaredonda na SportTv me parece especialmente interessante: um dos comentaristas lembra que o Flamengo que em 1981 foi campeão do mundo, arrasando o Liverpool, tinha nove jogadores formados dentro do clube, o mesmo número de formados pelo Barça no time que goleou o Santos. Em outro lugar, o Mano Menezes lembrava que o Barcelona escolheu seu estilo de jogo há 35 anos e que essa continuidade é um exemplo pro Brasil.

Outro comentarista ressalta que não só o Barça joga com três defesas, como esses três: Puyol, Abidal e Pique, sempre saem jogando e que ninguém nunca da um chutão, como fazem a miúde os beques brasileiros. O Barcelona venceu o pessimismo do Sócrates: o doutor achava que o físico já tinha se imposto no esporte e que, por tanto, valia à pena ter muitos jogadores defensivos que não sabem tocar a bola. A saída, para o Sócrates, era reduzir o número de jogadores em campo a nove. Mas no Barcelona os onze, inclusive o goleiro, têm que saber sair com a bola nos pés.

Mas é talvez nesse pragmatismo denunciado por Sócrates que reside a miséria do futebol brasileiro de hoje. Desde a década de 1980, o Brasil não tem um bom meio campo: o modelo das copas de 1994 e 2002 era o de sete ou oito defesas com dois (Bebeto e Romário) ou três (Ronaldiniho, Rivaldo e Ronaldo) atacantes. Na copa de 2006, o número de atacantes era maior, mas a ausência de jogadores de toque no meio campo impedia a possibilidade de um bom jogo.

No Barcelona, na frente dos três defesas tinha sete jogadores de meio-campo, todos eles tratando a bola maravilhosamente bem. Perguntado se havia algum segredo nisso, o técnico do Barcelona, Guardiola, disse que não, que eles só tentavam passar a bola rapidamente, que é como os pais e os avôs dele tinham dito que jogava o Brasil antes.

Quem sabe agora, que os europeus estão jogando como os brasileiros, nós sempre tão eurocêntricos não temos por vias tortas a possibilidade de regressar às nossas raízes? O sentimento de humilhação expresso pelos analistas brasileiros é uma esperança.

A tristeza é que uma reação agora já vai ser tarde para a próxima copa. A Espanha, em troca, pode fazer muito bonito. Ela tem um problema com o gol – seus grandes meio-campistas não têm muita habilidade para finalizar jogada – mas tá vindo aí uma nova geração de atacantes: Fábregas, Pedro, Callejón ou Soldado que, se conseguirem se consolidar, vão retransformar Espanha em armada invencível. Pelo menos não vai ser a Argentina que ganhe nossa copa!

Vale a pena rever os melhores momentos: http://youtu.be/kp_P8CNRAgc

1 comentario:

  1. Que saudade da época em que o Brasil realmente era o Brasil do Futebol.

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